Questionar é não apenas saudável como
necessário. Tem sempre algo de muito errado com o que não pode ser questionado. Vou lançar três questionamentos que considero essenciais, e convido os leitores a mandarem suas dúvidas, críticas e questionamentos - responderei os mais interessantes e recorrentes aqui no blog mesmo.
Os questionamentos que selecionei são os seguintes:
1) de onde vem e onde está o ponto de
ligação entre os números e as pessoas;
2) como demonstrar a ligação entre
números e pessoas; e
3) como definir e isolar as
características de cada número?
Podemos responder a primeira pergunta recorrendo ao princípio
da sincronicidade. De acordo com C. G. Jung, criador do termo, a sincronicidade
é um princípio acausal, ou seja, desvinculado do princípio de causa e efeito, o
qual por sua vez é a base tanto para o conceito hindu de karma quanto
para a ciência contemporânea. Sincronicidade é a correlação entre fatos ou
sinais que parecem estar ligados de alguma maneira inexplicável ou
irracional, mas cuja irrefutável presença os posiciona além da mera
coincidência. É possível dizer que a diferença entre coincidência e
sincronicidade é que a primeira vem a ser apenas uma interpretação reducionista
da primeira. Claro que há quem ache que a sincronicidade é que seria uma versão
fantasiosa da coincidência. Mas até o mais cartesiano dos cientistas usa,
mesmo sem perceber, sua própria intuição para chegar a conclusões e
desenvolver análises. Seja como for, a essência da sincronicidade se baseia na
idéia de que acontecimentos paralelos e não-relacionados em termos racionais
teriam valor ou significado equivalente.
Um exemplo prático da ação do princípio da
sincronicidade: um sujeito pega a mesma rota para voltar do trabalho, todos os
dias, mas toda vez que ele resolve ou precisa tomar um caminho diferente, é
ultrapassado por um carro de um certo modelo, ou de uma certa cor, ou com um
certo número na placa. Ou ainda: a pessoa que se diz “perseguida” por um certo
número, o qual se encontra na sua identidade, placa do carro, cartão do banco,
número da casa, datas marcantes, tudo isso involuntariamente.
O princípio da sincronicidade é a base do raciocínio e
da construção do mapa numerológico, como se pode perceber. Os números são os
símbolos que sinalizam com as qualidades e padrões de determinados seres e
eventos, e suas inter-relações. Por isso a “previsão do futuro”, no sentido causal
— ainda que falho — que se encontra na meteorologia, por exemplo, é
impossível, mas a qualidade de um número presente no nome ou na data de
nascimento de fato se relaciona à pessoa ou evento em questão.
Ao segundo questionamento, como demonstrar a ligação
entre os números e as pessoas, só posso responder com a recomendação ao leitor
para que experimente a numerologia de maneira prática, isto é, estudando a
mesma e aplicando-a, ou submetendo-se à análise de seu mapa numerológico por um
bom profissional do ramo. Para identificar este profissional, apresento no
final deste capítulo algumas crendices relacionadas à numerologia, as quais o
leitor deve evitar. Só a prática responsável e racional da numerologia poderá
evidenciar as qualidades do sistema, demonstrando assim a ligação (em termos de
sincronicidade) entre os números e as pessoas, a qual tem a mesma natureza que
a ligação entre os números e as cores, ou entre as pessoas e os astros, ou
entre uma célula e um sistema solar.
A terceira pergunta - como definir e isolar as
características de cada número - precisa de uma resposta mais elaborada que apresente os fundamentos dos números essenciais.
- Fundamentos dos números essenciais
O número 0 não é usado pela numerologia
isoladamente, apenas como complemento para formação de algarismos, como 01, 10,
20 etc. Isso se dá porque a numerologia se propõe a analisar seres ou eventos
que existam, tenham existido ou venham a existir. E o número 0 é a
representação da não-existência, um conceito abstrato.
O número 1, sendo o primeiro e a representação
de algo que é único e original — inclusive no sentido de originar os outros
números — só pode corresponder a personalidades ou eventos de destaque,
relacionados a egos fortes, singulares, brilhantes, impositivos, determinantes
e definidos. Ou seja: a própria qualidade matemática do número 1 leva às
conclusões quanto ao significado do número como símbolo. Relaciona-se à
masculinidade como qualidade, não necessariamente como gênero.
O número 2, sendo o resultado da secção do
número anterior, representa dualidade, ambiguidade, cooperação, divisão, complementaridade,
delicadeza, fraqueza, vacilação, indefinição. Todas estas qualidades são
consequência da divisão da unidade. Relaciona-se às qualidade femininas.
O número 3 vem a ser o resultado das
polaridades masculina e feminina, ativa e passiva, clara e escura, ou seja, o
resultado do encontro/soma de 1 e 2, o pai e mãe. Sendo assim, é a criança, com
todas as qualidades criativas implícitas. Representa o movimento da
comunicação, a expansão e o somatório de qualidades um pouco mais complexas que
as polaridades opostas de 1 e 2. A imaginação e a projeção de idéias típicas de
mentes jovens, olhos de primeira vez.
O número 4 é a oposição complementar às
qualidades lúdicas do número anterior. Representa o estabelecimento da
existência, o fundamento da mesma, já que a primeira tríade representa a
existência em si. É necessária uma estrutura para que esta existência não
pereça e possa se desenvolver, é preciso um teto, um abrigo, uma sustentação. O
número 4 representa todo o trabalho e esforço que podem ser maçantes e
indesejados, mas que são inevitáveis e indispensáveis. É também o esforço de
conservação, da tradição, organização e coerência. Pensemos numa cadeira com
quatro pernas, e outra com três, e veremos porque o número 4 é um símbolo de
estabilidade.
O número 5, como não poderia deixar de ser, faz
a oposição à estruturação de 4, cujo exagero pode levar à deterioração, pois
nada se conserva da mesma forma para sempre, tudo é sujeito a mudanças. O 5
representa o vórtice que se forma no centro do quadrado, e que dá origem ao
quinto ponto, dano origem à pirâmide. No seio do pré-estabelecido nascem o
questionamento e a rebelião que são a mola propulsora do constante
desenvolvimento necessário para o eterno devir. Mudança é a condição elementar
de manutenção da vida.
O número 6, naturalmente, vem trazer de volta o
equilíbrio e a estabilidade, mas com um sentido mais abrangente que o número 4,
pois o número 6 inclui a estabilidade afetiva e social, além da mera
estabilidade material. A estrela de seis pontas, desvinculada de qualquer
conotação religiosa, simboliza bem o princípio do número 6 ao equilibrar o
superior ao inferior, formando um equilíbrio de polaridades que reflete a
tendência à harmonização que é atribuída a 6.
O número 7 é o produto do vórtice formado
através da estabilidade de 6, em processo semelhante ao que ocorre entre os
números 4 e 5. O arquétipo de 7 acrescenta uma qualidade espiritual ao
arquétipo de 6 (o qual se detém no campo do afeto e da sociabilidade),
representando assim a busca do ser humano por algo mais que existência (1, 2 e
3), segurança (4), mobilidade (5) e relações de amor e amizade (6). Este algo
mais é a própria individualidade, lapidada pela busca interior e pelo ímpeto de
se conhecer e se descobrir.
Quando a pessoa alcança um nível razoável de
autoconhecimento (nível esse que é ainda é, infelizmente, alcançado por poucos)
está enfim pronta a lidar com as riquezas do mundo de maneira justa, e de forma
a construir uma boa rede kármica — ou, em outras palavras, um bom crédito
pessoal como resultado de ações positivas e bem planejadas que levem a riqueza
a se expandir, não a ser contida. É isto que o número 8 representa:
justiça, ajustamento, equilíbrio, causa e efeito, matéria.
O número 9 traz a necessidade de movimento e
mudança após a vinda de um arquétipo estável como o de 8. Sendo três vezes
três, o número 9 é a existência em sua plena manifestação e interação, o
intercâmbio de todo tipo de arquétipo ou energia, daí a ausência de
preconceitos e a tendência a empurrar o desenvolvimento que se atribui a este
número.
Há outros números combinados, inclusive os números
mestres 11 e 22, cujo estudo é parte indispensável para a plena aplicação do
mapa numerológico anual e do oráculo dos números.