25 de nov. de 2010

Pitágoras e a numerologia

Um tema recorrente para estudiosos de numerologia, geralmente apresentado de maneira um tanto incorreta, é a relação entre a numerologia e o filósofo grego Pitágoras de Samos, que viveu há cerca de 2600 anos. Sabemos que Pitágoras foi, além de filósofo e matemático, um místico, estudioso das leis naturais e esotéricas. Muitos se lembram de Pitágoras com terror, devido a seu famoso Teorema, e guardam lembranças pouco simpáticas da menção de seu nome em aulas de matemática na escola. Mas outros tantos, os estudiosos de esoterismo, associam o nome do filósofo às técnicas numerológicas conhecidas. Desta forma, criou-se inclusive a denominação “numerologia pitagórica”. 

   Pois bem. Antes de avançarmos neste assunto, gostaria de propor o seguinte questionamento: seria a numerologia, e o esoterismo como um todo, questão de mera superstição? Se fosse, não seria necessário estudar, ler ou se informar sobre estes assuntos, já que a superstição nasce da ausência de conhecimento sobre um determinado tema. A superstição é uma armadilha irracional que aprisiona o bom senso humano e perpetra inverdades. Quem evita um gato preto ou teme o número 13 acaba se rendendo a um primitivismo antievolutivo que não tem nada a ver com o estudo esotérico. 

   Todo conhecimento humano, seja científico (passível de provas mecânicas e irrefutáveis em laboratório ou empiricamente), artístico, filosófico ou técnico, deve estar sempre em constante evolução, em constante reforma. A medicina ainda hoje rende homenagens a Hipócrates, também grego, considerado o pai da medicina. Mas seria insano manter as diretrizes e práticas de Hipócrates, e se assim tivesse sido, a medicina não teria dado os incontáveis saltos que possibilitam a cura e tratamento de tantas doenças, aliviando assim o sofrimento da humanidade. Da mesma forma, a arte e a filosofia estão perenemente em marcha evolutiva, crescendo, se modificando, se adaptando e revendo seus códigos. 

   O mesmo deveria acontecer com o esoterismo, outro ramo de conhecimento humano. Apesar de não ser exatamente ciência nem arte, o esoterismo se encontra entre estas duas linhas de saber, e não há razão pela qual os sistemas esotéricos não possam ou não devam ser constantemente revistos, atualizados e expandidos. Se isto não for assim, cai-se no vácuo da superstição e da religião, posto que ambas — cada uma à sua maneira — lidam com dogmas, conceitos absolutos e imutáveis ou inquestionáveis. O estudo esotérico nasceu e deve continuar se desenvolvendo rumo à busca de caminhos, não rumo à auto-indulgência e a estradas fechadas que não levam a lugar algum. 

   Posto isso, não devemos ter medo de pesquisar, de procurar por respostas verdadeiras. Não devemos ter idéias pré-concebidas, nem considerar o estudo esotérico como algo “sagrado” e intocável. É fundamental uma abordagem prática e objetiva da mesma, sem crendices ou “tradições” inócuas. 

   Bem, eu estou enrolando e dando voltas, mas a pergunta deste post é: o que seria a “numerologia pitagórica”? 

   A resposta é uma só: não existe, nem nunca existiu, tal coisa. Vejamos: a numerologia é uma disciplina ou conhecimento esotérico cujas bases são o alfabeto latino/romano, sendo tais letras associadas aos algarismos correspondentes em ordem numérica. Então, podemos logo de início questionar como poderia o grego Pitágoras ter trabalhado com um alfabeto que lhe era totalmente estranho. De toda forma, o alfabeto grego, bem como o hebraico, tem os mesmos símbolos para seus números bem como para seus algarismos, ou seja, alfa vem a ser ao mesmo tempo uma letra e um número. Esta idéia é parte da numerologia, quando associamos a letra A ao número 1, a letra B ao número 2, e por aí vai. Mas isto se aplica, como citado, também ao alfabeto hebraico, e daí vem a gematria, uma disciplina da cabala que é a origem da tese numerológica, mas não de sua técnica – o que seria assunto para outro artigo. Contudo, Pitágoras de Samos não deixou qualquer texto escrito de próprio punho, e entre seus seguidores e pesquisadores jamais foi encontrada qualquer referência a um mapa que fosse calculado através do nome e da data de nascimento, em grego ou em qualquer outra língua, usando qualquer alfabeto que fosse. Sendo assim, Pitágoras não tem nenhuma relação direta com a numerologia. Nenhuma. Certamente, o filósofo inspirou e influenciou muito mais a matemática do que a numerologia, e não existe nenhuma “matemática pitagórica”. 

   Creio que há neste ensejo por associar Pitágoras à numerologia uma ânsia por conferir legitimidade ao estudo esotérico dos números, o que é contraditório, pois uma inverdade histórica só pode comprometer ainda mais a seriedade um estudo já normalmente tão vilipendiado e associado a fraudes que levam as pessoas a adotar nomes inócuos ou acreditar em previsões de futuro. A numerologia, com todo o respeito a este grande filósofo que estudou, sim, as virtudes místicas dos números, não precisa disso. O que a numerologia precisa é de pesquisas para que possamos estar constantemente ajustando e aperfeiçoando a tecnica para que ela cumpra seu papel, que é o de orientar o auto-conhecimento, e não trazer fórmulas “mágicas” ou soluções instantâneas. 

   Portanto, podemos afirmar com toda propriedade: não existe uma “numerologia pitagórica”. Existe simplesmente a numerologia, a qual trata do aspecto metafísico dos números. Nada que é referente aos números seria estranho a este influente filósofo que foi Pitágoras, mas associar a numerologia a ele vem a ser muito pior que restringir a medicina a Hipócrates: se é verdade que a medicina de hoje é praticada de maneira muito diferente do que era comum na época de Hipócrates, é por outro lado indiscutível que foi ele quem lançou a pedra fundamental da prática que existe e se desenvolve até hoje. Mas estabelecer uma relação imediata entre a numerologia e Pitágoras é simplesmente falso, pois não há qualquer base que justifique tal teoria. A não ser que se entre no campo das “canalizações”, “tradições ocultas”, e outras desculpas tolas que só servem para tentar aprisionar a verdade, quando se esgotaram os recursos do bom senso e só resta apelar para a auto-indulgência. 

Texto de Johann Heyss. Não reproduza sem mencionar o autor e o blog.

2 comentários:

  1. Olá querido, isso esclarece muito... Uma coisa que me ocorreu qdo li se texto é que somando a tudo o que vc falou, talvez o pessoal confunda as coisas pq Pitágoras dizia que tudo na vida (no mundo, as pessoas, as coisas, os animais) tudo poderia ser explicado através relações matemáticas e como a numerologia explica muita coisa... deu-se a confusão (rs). Bj

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