Eu tinha apenas 15 anos e uma rebeldia que se dizia ateísta mas na verdade era antirreligiosa (o que eu só viria a entender muito tempo depois). Todo mistério me atraía e fascinava. Todo segredo me interessava. Explicações racionais sempre me pareceram parcas, insuficientes. Então quando começou aquela onda de esoterismo na mídia, a febre new age de meados dos anos 80, e a editora Nova Cultural lançou uma coleção de fascículos chamada A Sua Sorte, me interessei. Tratava de ciências ocultas, ou esotéricas: astrologia, cartomancia, tarô, i-ching... e numerologia, um sistema de autoconhecimento esotérico que viria a ser muito importante na vida deste escriba agnóstico.
Eu estudava aquilo tudo com entusiasmo mesclado a desconfiança. Não aceitava de cara a ideia de um futuro pré-estabelecido que muitas vezes era apresentada, mas não podia deixar de admitir que havia sentido demais em certas técnicas para creditar tudo ao acaso. Mas me aborreceu particularmente o número sete (25/7) que a numerologia me ofereceu como Caminho do Destino. Ainda me lembro que o texto do fascículo de ensinamentos exotéricos dizia que eu teria uma vida pautada por certo isolamento, distanciamento da sociedade, atividades intelectuais e artísticas, forte exercício de crítica e autocrítica (e certa rabugice), estudo de línguas, mistérios e espiritualidade. Hoje em dia tudo isso me parece bastante interessante, mas eu tinha 15 anos, era sedento por sexo, drogas e rock’n’roll e queria festa, bagunça, zoação. Coisas que não se faz sozinho (há controvérsias). Fiquei bastante insatisfeito com a possibilidade de passar a vida isolado entre livros e no meio de um bando de gente velha.
Hoje em dia, às vésperas de completar 43 anos, só posso comprovar que a numerologia estava certa e eu estava errado — eu tinha apenas 15 anos, o que se havia de esperar? Meu livre arbítrio me permitiu e continua permitindo que eu faça o que quiser. Particularmente a partir dos 22 anos (após me libertar definitivamente de um relacionamento doentio que me ensinou quase tudo sobre o lado feio do ser humano) eu me joguei de cabeça em festas, noitadas, sexo (muito), drogas (poucas) e rock’n’roll (mais para música eletrônica, na verdade). O período em que morei em Nova York, então, entre 1997 e 1999, foi uma fase de extravasar loucuras, de me aventurar e me arriscar. Mas ao longo do processo fui percebendo uma coisa: eu nunca me encaixava em grupo nenhum. Estava sempre à margem, sempre inserido mas deslocado, sempre dentro mas meio fora. Sempre tinha um olhar crítico e distanciado (por mais que próximo) de todos os grupos pelos quais transitei — grupos de esquerda, centro e direita; grupos de hetero e homossexuais; grupos conservadores e progressistas; grupos ateus, esotéricos, exotéricos e religiosos. Para os esquerdistas eu sempre estive à direita; já os direitistas sempre me acham de esquerda; progressista demais para os conservadores e conservador demais para os progressistas, e assim por diante com os diferentes grupos e extremidades. E esta é uma posição típica do número 7 — número primo que não se relaciona com os demais números dentre os primeiros 10 (que representam arquétipos essenciais). O número 7 está sempre à parte dos demais, sempre analisando a tudo e a todos (e a si mesmo), nunca se encaixando totalmente em nada e sempre percebendo um pouco de todos os lados. Tudo bem que também tenho em meu mapa um Dharma 11 que potencializa tudo isso, mas aí é assunto para outro post.
Mas a numerologia também tinha razão em outro sentido, mais profundo: eu na verdade gosto muito desse jeito do 7. Uma das razões pelas quais eu preferi desenvolver uma carreira como músico solo e não como membro de uma banda é exatamente o meu individualismo que me torna desconfortável em grupos. Gosto mais de duplas. Em geral, desconfio de grupos. As pessoas se comportam de modo diferente, mais afetado e menos sincero, quando em grupo. Além do que, silêncio, introspecção e isolamento da sociedade me parecem coisas boas e agradáveis hoje em dia, vendo com clareza. Meu trabalho de tradutor reforça a lógica do número 7 de seguir um caminho de isolamento — o que aos 15 anos eu confundi com solidão. Não sou nada solitário — sou casado há mais de dez anos, tenho muitos amigos próximos e queridos com quem sempre mantenho contato virtual e real — mas não trabalho com ninguém por perto, seja como tradutor, escritor ou musico. Trabalho sempre sozinho ou com no máximo um(a) parceiro(a). O que está totalmente dentro do prognóstico do Caminho do Destino 7. Principalmente vindo de um 25, número de origem que empresta ao 7 nuances emocionais e sociais que nada têm de solitárias.
E assim aprendi e venho aprendendo que a numerologia nos dá pistas certas, mas cabe a nosso livre arbítrio e nosso enfoque dos fatos extrair o melhor ou o pior da mensagem que os números nos sussurram...